“Primeiro eles vieram por Breno Altman…”
Marcelo Guimarães Lima
Primeiro eles vieram por
Breno Altman. Não me incomodei, pois, afinal, não sou judeu e sou,
como é público e notório, um cara bastante moderado. E assim
aconteceu que, depois do Breno, muitos outros,
moderados ou não, foram alvos do braço dito “cego” da justiça,
dita também “cega, mas não tola”. O que me causou alguma
inquietação, mas logo usei a razão e descartei como “alarmistas”
e infundadas preocupações maiores relativas ao episódio do
Breno.
Após algum tempo e vários outros incidentes
semelhantes, com gente do PT, PSOL, PCO, entre outros,
vieram afinal por mim. E aí não havia mais ninguém para ouvir meus
argumentos de democrata convicto e meus protestos de cidadão
defensor da legalidade, dos bons modos e bons costumes
republicanos.
Fonte: O rapaz que gritava:
“Democracia!” - antigo conto chinês, traduzido por
Bertoldo Breda (escritor, veterano da Coluna Durruti na Guerra Civil
e Revolução Espanhola no século XX).
Um espectro
ronda o Brasil e o governo do PT, o espectro do golpe (outro?) e da
disponibilidade da extrema-direita brasileira, aliada recorrente da
direita dita liberal, para o próximo ensaio de sublevação contra a ordem
legal e mudança, ou talvez simples adaptação, do regime da
“democracia” tutelada e debilitada do Brasil.
Na
Argentina, o neofascista e ultra neoliberal Milei dá as cartas
seguindo a lição de Napoleão (Bonaparte) : agir com “audácia,
mais audácia, sempre audácia”. Não serão protestos nas ruas que
intimidarão o audacioso Milei, homem de limitadas capacidades morais
e intelectuais e limitada flexibilidade, características que o
ajudaram a sobressair-se como portador de uma única mensagem e
programa: fazer tabula rasa da angustiante situação da economia
argentina ainda que, para tanto, tenha que sacrificar um enorme
contingente da população de trabalhadores precarizados ou excluídos
e parte da combalida classe média argentina no altar de Mamon, a
divindade imaginária da ganância sem limites.
Milei quer
lotear a Argentina e vender seu país para especuladores
estrangeiros, com preferência afetiva para o capital norte-americano
e seus associados. Tal expressão de um “patriotismo” afetivo sui
generis conhecemos no Brasil quando, a partir do golpe de 2016,
setores da justiça brasileira, sob o comando do juiz de primeira
instância da República de Curitiba, juntamente com o seu
side-quick, o promotor de prenome original, ofereceram seus
préstimos (e alguns fundos) aos serviços de inteligência
norte-americanos para, sempre em nome da moralidade pública, da luta
contra a corrupção (alheia), em nome de Deus, Pátria e Família,
limpar o Brasil dos corruptos e mal-intencionados petistas no
poder.
Certamente não foi a primeira vez que o Grande
Irmão do Norte se imiscuiu nos assuntos internos do país. Mas a
“naturalidade” de tal processo e de sua recepção no país do
golpe de 2016, sem dúvida mostrou uma certa audácia da direita
brasileira, da sua imprensa amiga e a audácia de agentes do estado
colocando suas preferências ideológicas como norte da política do
estado nacional.
Dentro desta perspectiva e hábito
formado, a Polícia Federal do novo governo petista abre investigação contra o combativo jornalista Breno Altman. Breno, que é judeu, é
acusado de “antissemitismo” por sua corajosa oposição pública
à guerra do Estado de Israel contra uma população palestina
confinada, oprimida e sem defesas, guerra classificada de genocida
por personalidades judias de todo o mundo, inclusive por opositores
israelenses.
Na estranha lógica dos acusadores de Breno
Altman no Brasil, judeus ortodoxos, judeus da diáspora, judeus
israelenses, todos os judeus que se opõem ao sionismo e/ou ao atual
governo de ultra direita em Israel seriam todos “antissemitas”
que devem ser punidos de várias formas pelo crime de inconformismo e
independência de julgamento. A destruição de Gaza e o assassinato
em massa da população civil são apresentadas como “ações
defensivas” pelo Estado de Israel. A linguagem e a lógica devem
igualmente se subordinar aos desígnios da ideologia e do poder
militar israelenses, secundado por Biden, pelos monopólios da
comunicação e o complexo industrial-militar norte-americano, e
contando com a ajuda de organizações sionistas em vários
países.
Contando com os préstimos da Polícia Federal do
Brasil, organizações sionistas brasileiras desejam, audaciosamente,
impor a sua visão particular à opinião pública no país. O
próximo passo será censurar o livro recente do jornalista “Contra
o Sionismo retrato de uma doutrina colonial e racista” e,
a partir daí, criminalizar brasileiros, judeus e não-judeus, que
por ventura não se perfilem sob a bandeira do Estado de Israel na
sua “guerra santa” contra os infiéis palestinos e os igualmente
infiéis cristãos que não reconheçam a ideologia sionista como
dogma universal incontestável.
A investigação contra o jornalista Breno Altman é um atentado à liberdade de expressão por um órgão público que por esta iniciativa se apresenta tomando parte ativa numa disputa ideológica de interesse de um estado estrangeiro, um escândalo para a soberania nacional e para a propalada democracia brasileira.
O Brasil pós-Bolsonaro estranhamente se aparenta cada vez mais ao status quo ante. Onde está o ministro da justiça do Brasil? Onde o governo Lula?
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