Os sinais na fumaça: o efeito da anestesia está passando?

Marcelo Guimarães Lima

Dois anos do flagelo do golpe para o povo brasileiro e parece que o efeito da “anestesia”  administrada em grandes doses pela mídia, em colaboração estreita com o judiciário, os partidos golpistas e a policia golpista, para o excruciante desmonte e “reajuste” neoliberal da vida econômica da nação, esta’ passando. Para muitos, o impedimento ilegal e vergonhoso de Dilma Rousseff, a anulação dos votos da maioria do eleitorado brasileiro, as intrigas e as iniciativas golpistas nauseantes da direita (com a devida participação entusiástica do PSDB) em Brasília, a traição de Temer e seu grupo, o desmando, a hipocrisia e a desonestidade geral, o retrocesso legal, legislativo, institucional, podiam parecer acontecimentos de um mundo distante, o mundo dos políticos em Brasília, distante da vida quotidiana da maioria, das urgentes preocupações e aflições do dia a dia, e mesmo incompreensível nos seus aspectos de escândalos recorrentes e da irresponsabilidade “profissional” que seria o apanágio dos políticos, a prerrogativa e modus vivendi de uma casta acima do comum dos mortais.

O “punitivismo” agressivo e altamente seletivo da justiça golpista, o uso das instituições para impor o programa golpista e destruir os inimigos designados, e que culminou com a  prisão do ex-presidente Lula  sob absurdos “argumentos”  legais (mais propriamente, extralegais, uma verdadeira caricatura do direito confeccionada e emitida por gente de formação profissional duvidosa) foi talvez um primeiro momento em que a ficha do golpe caiu para muitos.

Greve ou lockout de caminhoneiros ou patrões, iniciativa planejada desta ou de outra forma e finalidade, o movimento que atualmente impacta a vida de todos, inclusive de ministros do STF, tende a ultrapassar os eventuais desígnios de alguns de seus promotores reais ou presumidos e repercute na sociedade sinalizando que atingiu-se um ponto de saturação.

O movimento dos caminhoneiros contesta de forma veemente o que aparentemente seria um aspecto especifico, mais ou menos “técnico-administrativo” da politica econômica do (des) governo golpista de orientação geral entreguista, anti-povo e anti-nação. Assim fazendo, de modo consciente ou não, os caminhoneiros colocam em cheque a totalidade desta politica ao escancarar seus resultados práticos negativos e destrutivos para os trabalhadores e a sociedade em geral.

O golpe neoliberal se vê deste modo contestado e ameaçado na sua orientação férrea essencial de privatizar e exportar lucros, mais e mais exorbitantes, e socializar prejuízos cada dia mais calamitosos e insuportáveis. O presidente golpista responde com a ameaça de mais violência por parte das forças armadas e seus generais viúvos da guerra fria.

A situação presente sinaliza que os “de baixo” não vão mais assistir perplexos ou passivos a destruição de direitos conquistados `a duras penas na historia da nação e mesmo da civilização moderna . Tocamos o fundo e nele a questão de direitos deixa de ser questão de “ ideias” ou ideais mais ou menos abstratos, domínio de especialistas legais e autoridades instituídas: e’ a sobrevivência material que esta’ em jogo para a maioria, e a sobrevivência moral quando a luta pelo pão quotidiano se transforma no inferno diário da insegurança e da falta de perspectivas.

Os pneus queimando nas rodovias emitem um sinal urgente de que a mudança de rumo e’ necessária aqui e agora, pois o custo material (entre outros custos) do golpe chegou ao limite do suportável e o povo saberá fazer as contas entre o custo de aquiescer uma vez mais e o valor da iniciativa própria de mudança. A consciência e a iniciativa do povo, sabemos, tem seus ritmos próprios: uma vez posta em movimento e’ muito difícil dissuadir, canalizar e paralisar a ação das maiorias que tem menos a perder, quando tudo esta’ perdido, do que a ganhar. 

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