O Grande Irmão e a democracia dos mais iguais

 Marcelo Guimarães Lima



Marcelo Guimarães Lima
Big Brother is Watching You,
 2023

Notícia no site Brasil247, informa que o Sr. Lewandowski, juiz aposentado do STF, irá presidir o Observatório da Democracia. Segundo o site da instituição:

“O Observatório da Democracia nasceu dos questionamentos levantados durante os encontros de um grupo formado por sete fundações partidárias, Cláudio Campos (PPL) – Lauro Campos (PSOL), João Mangabeira (PSB), Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (PDT), Maurício Grabois (PCdoB), da Ordem Social (PROS) e Perseu Abramo (PT). Trata-se de um grupo aberto a novas adesões. Nosso compromisso é com a manutenção da soberania e da democracia no País. Para isso, é absolutamente necessário monitorar o governo atual e posicionar-se em relação a ele, a partir da produção de informações consistentes e verdadeiras.”

Neste trecho, “governo atual” quer dizer, o governo Bolsonaro. No site, os primeiros relatórios da instituição são de 2019.

“Observar”, quer dizer, defender de fato a democracia é algo sem dúvida necessário no país daquilo que já designamos como “golpismo estrutural” e da democracia continuamente desfigurada na história moderna do Brasil. A pergunta é: que fez o Sr., Lewandowski pela democracia brasileira no golpe de 2016?

Se bem me lembro, o Sr. Lewandowski, junto com seus colegas hoje ardentes defensores da legalidade, participou da farsa jurídico-parlamentar do impeachment de Dilma Rousseff. Como diz a sabedoria popular, no Brasil prostitutas e cafetões se apaixonam, traficantes se viciam, pobres votam na direita, etc., e grandes democratas auxiliam golpes de estado.

Que a covardia e a fragilidade institucional brasileira sejam edulcoradas face à opinião dita pública pelos meios de comunicação monopolizados, é revoltante, mas não é estranho, dado que o controle da informação, quer dizer, o controle do pensamento, das mentalidades, dos afetos, é algo fundamental para a perpetuação da dominação de classe no país: a violência simbólica é complemento absolutamente necessário da violência material, quer dizer, da miséria imposta, do desemprego planejado, do controle judiciário da cidadania, da violência assassina do aparato de repressão o qual se impõe, recorrentemente, como juiz e carrasco absoluto e final para suas vítimas e faz do ordenamento jurídico nacional, com toda a sua pompa e seu narcisismo público, uma ficção, uma farsa de contornos grotescos continuamente revelada pelas matanças promovidas pelos chamados “órgão de segurança”, agindo sempre em nome da paz e da lei, e que fazem da lei do cão a “lei de fato” do país.

Já quando se trata de iniciativas de boas intenções para a defesa da democracia, creio eu que o melhor, ou mais propriamente, o único caminho a seguir é o da coragem de chamar as coisas pelos nomes próprios. No regime do Grande Irmão, do romance-sátira política “1984” (publicado em 1949) de George Orwell, a propaganda oficial proclamava: guerra é paz, opressão é liberdade, desonestidade é inocência, etc.

Quando os termos pelos quais designamos o mundo em que vivemos e nossas experiências nele perdem significado, quando a linguagem assim se degrada, as palavras se tornam instrumento de manipulação e engano. É a "dialética" da falta de sentido em ação. O arbítrio na linguagem acompanha, complementa, sustenta a seu modo, o arbítrio das estruturas de poder. Pelo que sei, o poder arbitrário é o contrário da democracia. Ou talvez tenha sido assim em algum lugar no passado. O que significa que, na atual conjuntura, eu devo estar enganado.







   Agradecemos o apoio dos leitores



Comments

postagens + vistas