A barbárie normalizada

Marcelo Guimarães Lima



 



imagem: https://www.instagram.com/p/CvSYkCluR5u/
@debocheria


Na foto, o contrito casal Bolsonaro em um culto público aparentemente reza por e aceita contribuições de vários tipos, sem questionar a origem dos valores. É o caso de se perguntar quais as condições afetivas, políticas, culturais, educacionais, etc. necessárias para que uma sociedade normalize condutas e atos públicos que atestam a falência geral de seu proclamado "sistema de valores" e de conhecimento, de seus princípios mais básicos de convivência humana referentes às relações básicas de reciprocidade e reconhecimento que permitem a vida coletiva nos seus processos mais elementares.  Em um tal contexto a religião é instrumentalizada para fins pecuniários privados.

Assistimos o fim da civilização tal qual a conhecíamos no passado? É este o fim melancólico e desonroso do sentimento religioso, da religião organizada que, para quem quer ver, e mesmo para os que tentam evitar saber, no Brasil hoje se apresenta desavergonhadamente como sistema de falsas promessas e máquina de enriquecimento de supostos intercessores, filhos diletos e mesmo “amiguinhos” da toda poderosa divindade? 

Que tipo de economia emocional geral e que processos são necessários para a partição interna das subjetividades para a aceitação, em determinados contextos, de condutas que negam decisivamente a autonomia individual juntamente com as responsabilidades individuais e coletivas que dela decorrem?.

A fratura social própria das sociedades hierarquizadas se expressa na sociedade de classes hoje, dada a extensão e complexidade desta, em fratura individual que se generaliza. Que esta seja por vezes uma importante condição de reprodução daquela não elimina o risco mais e mais acelerado da heteronomia subjetiva reiterada como fonte de anomia geral. Neste processo, a civitas, quer dizer, o vínculo social mediado pela livre adesão a normas coletivas, se degrada. Em última instância, a civilização sucumbe à barbárie.

A última instância, dizia um filósofo, é aquela que tarda sempre em chegar. É possível afirmar que no cotidiano da vida nacional fazemos hoje, desde já e de modo original, uma grande economia de instâncias. Na convivência reiterada com escândalos e personagens escandalosos de tipos variados, com o circo de horrores do bolsonarismo e de seus variados cúmplices, dentre eles o establishment liberal e neoliberal, a barbárie se faz espetáculo diário. A perplexidade passa a ser nosso sentimento habitual, expressão de uma experiência fundamental e inquietante de estar num mundo invertido vivendo uma realidade disforme.




      Agradecemos o apoio dos leitores




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