A barbárie normalizada
Marcelo Guimarães Lima
Na foto, o contrito casal Bolsonaro em um culto público
aparentemente reza por e aceita contribuições de vários tipos, sem
questionar a origem dos valores. É o caso de se perguntar quais as
condições afetivas, políticas, culturais, educacionais, etc.
necessárias para que uma sociedade normalize condutas e atos
públicos que atestam a falência geral de seu proclamado "sistema
de valores" e de conhecimento, de seus princípios mais básicos
de convivência humana referentes às relações básicas de
reciprocidade e reconhecimento que permitem a vida coletiva nos seus
processos mais elementares. Em um tal contexto a religião é
instrumentalizada para fins pecuniários privados.
Assistimos
o fim da civilização tal qual a conhecíamos no passado? É este o
fim melancólico e desonroso do sentimento religioso, da religião
organizada que, para quem quer ver, e mesmo para os que tentam evitar
saber, no Brasil hoje se apresenta desavergonhadamente como
sistema de falsas promessas e máquina de enriquecimento de supostos
intercessores, filhos diletos e mesmo “amiguinhos” da toda
poderosa divindade?
Que tipo de economia emocional
geral e que processos são necessários para a partição interna das
subjetividades para a aceitação, em determinados contextos, de
condutas que negam decisivamente a autonomia individual juntamente
com as responsabilidades individuais e coletivas que dela decorrem?.
A fratura social
própria das sociedades hierarquizadas se expressa na sociedade de
classes hoje, dada a extensão e complexidade desta, em fratura
individual que se generaliza. Que esta seja por vezes uma importante
condição de reprodução daquela não elimina o risco mais e mais
acelerado da heteronomia subjetiva reiterada como fonte de anomia
geral. Neste processo, a civitas, quer dizer, o vínculo social
mediado pela livre adesão a normas coletivas, se degrada. Em
última instância, a civilização sucumbe à barbárie.
A
última instância, dizia um filósofo, é aquela que tarda sempre em
chegar. É possível afirmar que no cotidiano da vida nacional
fazemos hoje, desde já e de modo original, uma grande economia de
instâncias. Na convivência reiterada com escândalos e personagens
escandalosos de tipos variados, com o circo de horrores do
bolsonarismo e de seus variados cúmplices, dentre eles o
establishment liberal e neoliberal, a barbárie se faz espetáculo
diário. A perplexidade passa a ser nosso sentimento habitual,
expressão de uma experiência fundamental e inquietante de estar num
mundo invertido vivendo uma realidade disforme.
Agradecemos o apoio dos leitores
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