Os pássaros na floresta cantam: Fora Bolsonaro!!!
Marcelo Guimarães Lima
Marcelo Guimarães Lima
Uirapuru, o cantor da floresta,
lápis de cor sobre papel, 21x29cm, 2021
Enquanto
escrevo, inicia-se a CPI do fatídico desastre da pandemia, desastre comandado
pelo (im)popular “Bozo”, e secundado por figuras incríveis, entre elas o
auxiliar que confessa ter tomado vacina às escondidas pois esta foi a orientação
do chefe, homem crescido mas que acata ordens sem atentar para o ridículo e
trágico da sua posição e não mede as consequência. E não apenas as consequências
públicas de sua postura, mas, o que seria de se esperar de gente absolutamente
centrada em si e incapaz de empatia, aquelas consequências para a sua própria individualidade,
sua subjetividade, sua condição de pessoa, seu senso de propriedade e de
autovalor.
Uma coisa é
certa daqueles que cercam e auxiliam o presidente “acidental”: são todos feitos
da mesma matéria moral e intelectual. O sr. Paulo Guedes, um economista, um
milionário, em suma, um especulador e auxiliar de especuladores, proclama em
reunião oficial que os chineses inventaram o vírus da Covid 19, e afirma, peremptoriamente,
com admiração e vivo apreço, a superioridade dos Estados Unidos como produtores
de vacinas na atualidade. Que digo? O hoje ministro deixa entender claramente
que a grande nação do norte, a terra do Tio Sam, é o paraíso encarnado na
terra, o modelo, o guia magistral dos povos e principalmente dos semibárbaros
como nós, pobres e desorientados brasileiros.
O sr. Paulo
Guedes é economista e ministro: de onde tirou ele a informação da “nacionalidade
chinesa” do vírus da Covid 19? Quais
pesquisas fez o hoje ministro para tal afirmação de grande importância e sobretudo
numa reunião pública de trabalho? Note-se que o ministro não fala de uma
hipótese, uma probabilidade, mas de um “fato” pura e simples.
Reza a
educação científica que conclusões devem ser embasadas por dados e raciocínios
que passam pelo crivo da racionalidade e confiabilidade empírica e metodológica
própria da atitude científica, dos procedimentos metódicos de verificabilidade
(aquilo que pode e deve ser verificado) próprios da ciência. Mas talvez a
economia não seja uma ciência propriamente dita, “j´en sais rien” digo eu,
utilizando-me da precisa formulação da língua francesa que quer dizer: sobre
tal assunto polêmico eu me calo devidamente. E neste caso, escusado estaria o
sr. Paulo Guedes.
O desprezo
pelo Brasil e pelos brasileiros, patente nos ditos e iniciativas do Capitão das
Profundas, é a atmosfera que respira a classe dominante brasileira. Que digo? O desprezo pelos brasileiros é o
perfume inebriante (vale aqui a figura “brega”) sem o qual não poderia viver a
classe dominante brasileira.
Como
poderia ser diferente num país onde, por exemplo, se produz alimentos em grande
escala e o povo volta a passar fome no atual regime golpista? A exploração multissecular
das massas no Brasil apenas confirma para os grupos dominantes a condição sub-humana
ou infra-humana dos que produzem em bem e serviços a riqueza material do país.
Como os
pássaros das florestas brasileiras, queremos o fim do estado de exceção do
bolsonarismo e seu cortejo diário de horrores, de absurdos lógicos, de aberrações
de conduta, de contrassensos naturalizados, de crueldade ativa e mentiras sistemáticas
e sistematizadas.
Arriscamos
aqui a hipótese que o chamado neofascismo brasileiro não pode ser pensando como
“pré-social”, segundo a caracterização de Vladimir Safatle, mas como “pós-social”.
A engenharia em larga escala da desorientação, pensada entre outros por Bernard
Stiegler, ganha os contornos específicos da atualidade no seu enraizamento nas
novas tecnologias da comunicação que se acoplam à precarização da existência, a
vivência do desvalor pessoal, própria do neoliberalismo.
Ainda que
de fato a iniciativa não diga respeito à melhoria imediata da vida para a
maioria, como bem observou, entre outros, o jornalista, historiador e líder
político Rui Costa Pimenta, a CPI, quero acreditar, poderá auxiliar as mudanças mais que urgentes
no cenário político nacional. Ela se dá no interior do regime golpista
instalado em 2016 que elevou, por meios escandalosamente ilegais, o sr. Jair
Bolsonaro de político medíocre, marginal e folclórico, ao posto de presidente
da nação. O que, por si só, dá ideia precisa da “seriedade” com a qual a classe
dominante enxerga o país e sua estrutura política. Em tal contexto não se pode esperar muito
deste processo.
De qualquer
modo, é sempre bom lembrar que a realidade é dinâmica, que o real é aquilo que
nos resiste e ultrapassa, o que vale igualmente e principalmente agora para os
atuais donos do poder e seus superiores.
Sobre a
CPI, diz o chavão repetido por vários políticos nestes tempos, sabemos sempre
como começa, mas não sabemos como acaba.
Como
acabará Bolsonaro, perguntamos? Como
acabará o regime golpista? Os golpistas em geral? Na história, por exemplo, alguns
grandes líderes fascistas terminaram linchados em praça pública ou suicidados.
Mas eram outros tempos.
Comments
Post a Comment