" Por que não te calas, Moro?" - Juan Carlos, ex-Rei da Espanha

Marcelo Guimarães Lima



Políbio,
Museu da Civilização Romana
(fonte: Wikipedia)



" Por que não te calas, Moro?" - foi a pergunta que, como todos sabem, o aposentado rei da Espanha  num Twitter dirigiu recentemente ao ex-juiz, ex-ministro, ex-herói impoluto do Partido da Imprensa Golpista, injustamente considerado pelos maldizentes (ou linguarudos na fala popular) o prevaricador-mor da república no seu tempo de funcionário, o hoje cidadão comum Sérgio Moro.

No DCM, o jornalista Kiko Nogueira explica mais uma confusão linguística e histórico-conceitual do sr. Moro em uma live na rede. O Paladino do Paraná, numa contundente demonstração de arraigada incultura e imodéstia confunde nomes e ideias:


Sergio Moro participou de uma live e conseguiu dar uma nova amostra de sua erudição.
A alturas tantas, pontificou que os “gregos e romanos” tinham “umas teorias sobre a história bastante interessantes”.“Olívio falava que a história é como um ciclo. As formas se degeneravam, se corrompiam”, diz ele. É um sambarilove desgraçado que não tem pé nem cabeça. Olívio, para começar, não existe. Ele pode estar falando de Ovídio — que era poeta, autor de “As Metamorfoses”.Provavelmente, trata-se de Políbio (203 a.C. — 120 a.C.). O geógrafo e historiador grego formulou o conceito de “anaciclose política”.Políbio percebia ciclos na ascensão e queda de civilizações e de formas de exercer o poder. Ainda assim, Moro não entendeu absolutamente nada.
O conje é imprecionante.


Kiko Nogueira no DCM


Olívio (Dutra) conhecido autor romano 
do tempo das calendas gregas

Adaptando (levemente) uma citação do conhecido autor irlandês de literatura infantil Eoin Colfer alguém poderia dizer ao antigo magistrado : "Confiança (excessiva) é ignorância. Se você está se achando o rei da cocada preta é porque tem muita coisa que você definitivamente ignora."

Confesso, antes de mais nada, que não li as obras deste autor irlandês. Mas isso não seria problema de acordo com o crítico francês Pierre Bayard autor de Comment parler des livres que l'on n'a pas lus, ou, no vernáculo: Como falar de livros que a gente não leu. Livro que eu também não li mas, no espírito do autor e por deferência ao ex-magistrado, recomendo.

Pierre Bayard, como todos sabem ou deveriam, é representante da "crítica ativa", doutrina dos que não ficam em cima do muro e consequentemente proporcionam meios concretos de corrigir autores e melhorar obras, sejam quais forem estes autores ou obras.

Bayard escreveu, entre outras obras magistrais, o livro Sherlock Homes estava errado (aqui na tradução inglesa do original francês)








E pensando bem, é possível discernir na atuação do ex-juiz Moro e seus comparsas da República da Lava Jato do Paraná ideias muito semelhantes aos conceitos do respeitado crítico literário francês. A Constituição e várias leis brasileiras estavam definitivamente erradas para a turma de Curitiba. 

Sérgio Moro foi um juiz ativista que corrigiu sempre que necessário e segundo suas luzes particulares e objetivos próprios, com seu vasto domínio da legislação e  conhecidas capacidades analíticas (e sintéticas), linguísticas, etc. os erros evidentes na Constituição Federal do Brasil. Com a abnegada colaboração de Deltan Dalanhol e seus auxiliares. Merecem, sem dúvida, registro e reconhecimento nos anais da república pela enormidade deste trabalho.

Aos eventuais interessados menciono aqui também outro livro de Pierre Bayard: Como falar de lugares que a gente nunca visitou. Útil, creio eu, neste tempos de restrições de viagens e também sempre que for necessário impressionar o populacho com relatos de afluência ou posses que a gente de fato não tem.


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