Os Idos de Março de 2017 por Gregório de Matos


 foto: Marcelo Guimarães Lima



Anjo Bento

Destes que campam no mundo 
Sem ter engenho profundo 
E, entre gabos dos amigos, 
Os vemos em papafigos 
Sem tempestade, nem vento: 

Anjo Bento!

De quem com letras secretas 
Tudo o que alcança é por tretas, 
Baculejando sem pejo, 
Por matar o seu desejo, 
Desde a manhã té à tarde: 

Deus me guarde!

Do que passeia farfante, 
Muito prezado de amante, 
Por fora luvas, galões, 
Insígnias, armas, bastões, 
Por dentro pão bolorento: 

Anjo Bento!

Destes beatos fingidos, 
Cabisbaixos, encolhidos, 
Por dentro fatais maganos, 
Sendo nas caras uns Janos: 
Que fazem do vício alarde: 

Deus me guarde!

Que vejamos teso andar 
Quem mal sabe engatinhar, 
Muito inteiro e presumido, 
Ficando o outro abatido 
Com maior merecimento: 

Anjo Bento!

Destes avaros mofinos, 
Que põem na mesa pepinos, 
De toda a iguaria isenta, 
Com seu limão e pimenta, 
Porque diz que o queima e arde: 

Deus me guarde!

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