Um pouco de simpatia para Sérgio Moro, por favor!

Marcelo Guimarães Lima


Sergio Moro, criticado por juristas e por cidadãos brasileiros de convicções democráticas, execrado pela extrema direita que ele ajudou de modo decisivo a chegar ao poder, visto com antipatia pelo congresso que aí está, denunciado como filo-fascista por progressistas em geral, e hoje descartado por parte expressiva da comunidade jurídica conservadora (não toda ela, é claro), precisa de um pouco da nossa simpatia, minha gente! Afinal, não se pode dizer que Moro assumiu uma tarefa e não cumpriu. Como o Capitão Nascimento, personagem daquele filme que glorificava a truculência policial letal e fazia troça da juventude de classe média maconheira dos “direitos humanos”, o juiz Moro pode dizer: “Missão dada é missão cumprida”.

Ao ex-juiz Sergio Moro foi dada uma única tarefa e ele se dedicou a esta tarefa de maneira exemplar e, diríamos, de modo obstinado, no melhor sentido da palavra. A tarefa: prender e condenar Lula. A diretiva foi dada pelos poderes de fato da nação: o núcleo dirigente da classe dominante, no caso, junto com seus parceiros ou mentores internacionais.

Para tanto, Moro passou por cima da lei, não poupou esforços, não deixou pedra sobre pedra da legislação, dos procedimentos e das instâncias jurídicas. Junto com seu parceiro e comandado Dalanhol (com nh, na grafia da língua vulgar do país) gastaram muito tempo e muito dinheiro público para levar a cabo a nobre tarefa. 

Sergio Moro foi o professional certo na hora e na missão certa, escolhido por seu perfil e sua experiência anterior de juiz ativista, de tino certeiro na premiação dos amigos e no castigo aos inimigos, moço voluntarista, para quem a lei não podia ser empecilho na hora de fazer justiça com a própria caneta Bic, ou caneta Montblanc, como queiram. 

Críticos maldosos apontaram a formação profissional deficiente, tanto do ex-juiz como do procurador franzino e com ar meio aparvalhado, cuja figura de aspirante a janota mal escondia uma vontade férrea (de “ferrar” adversários reais ou imaginários), um coração “cheio de mágoa” (como diz a canção popular), feroz, inclemente contra o inimigo designado, também o inimigo maior dos carreiristas da justiça de estado do país: o chefe do lulopetismo ! 

Se a falta de melhor formação, a juventude e a pressa explicam algumas das dificuldades afinal reveladas da chamada Operação Lava Jato e o rastro de leviandades, insultos, conchavos, impropriedades, linguagem vulgar e, pasmem senhores, ilegalidades cometidas por representantes da lei, tudo isso não deve desviar do principal: a prisão de Lula e a consequente eleição fake de Bolsonaro! Alguns deslizes cometidos em favor de um benefício maior para os donos do país! Como bem diz o ditado popular: “Ladrão que favorece ladrão tem cem anos de perdão!”

Alguns atribuem as desventuras da Lava Jato às limitações cognitivas (deixemos de lado as limitações éticas naturalizadas) da dupla Moro- Dalanhol e seus comandados e associados em geral. Aqui é preciso compreensão e um pouco de caridade, senhores ! Como quem sofre de limitação cognitiva não sabe disso, nada pode fazer a respeito! E o mesmo se passa com o as limitações éticas de quem julga celeremente, contundentemente os outros e tem uma escala de “valores” diferentes para si. Surfando na onda do ódio aos “comunistas em geral”, criada pela imprensa e seus patrocinadores, o pessoal da República Autoritária de Curitiba não atinou para o caráter conjuntural do seu poder absoluto e da unanimidade burro- midiática então propagada. Dando o incerto como certo, generalizando e eternizando um contexto específico terminaram com os burros n’água, o que pelo menos lhes dá a oportunidade de lavar suas próprias sujeiras com a experiência adquirida não apenas de assinalar a sujeira alheia (com ou sem provas, mas sempre convictos!), mas de emporcalhar a justiça e o país.

Em resumo, ainda que tenha feito por merecer o lugar que lhe foi atribuído, Sergio Moro agiu como lhe foi pedido e comandado e nunca esteve só. E soube, como pau mandado, representar com aptidão e fidelidade seus dirigentes: a classe dominante brasileira, fielmente espelhada em Moro, Dalhanol e tutti quanti.

Ou seja, Moro nunca foi o rei da cocada preta que aparentava ser. É digno, portanto, malgrado a impiedosa destruição de vidas e instituições que ativamente buscou e produziu, de um pouco de piedade, assim como a mais vil criatura de deus na terra, diz a sabedoria milenar da religião dos povos, é também digna de piedade por agir segundo sua própria natureza. 

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